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25 de fevereiro de 2011

4º Capítulo - Adônis


Durante várias semanas ensaiamos todos os dias e fizemos diversos shows em alguns pubs de Hampton.


Foram dias cansativos, em que conciliei diariamente aulas, trabalhos, ensaios e estudos.


Em um desses dias, após o show no Pirata, os garotos resolveram mudar de balada e eu aproveitei a oportunidade para esticar com Joanna uma madrugada dançante.


Quando nos cansamos, nos sentamos no sofá do inferninho; o papo estava super animado. Como fazia tempo desde a última vez que tínhamos conversado, Joanna me contava das novidades do campus e fofocas da república, até que ela resolveu saber mais sobre os garotos do Nightmares:
- E você? O que tem a dizer sobre a vida dos caras mais “pops” de Hampton?


- Não tenho nada a dizer, só o que todo mundo está cansado de saber.
- É verdade que o Chad toma chá das cinco?
- Aham – disse sorrindo.
- Não acredito! - Joanna se empolgou. - Ele tem mesmo cara de lord inglês, você não acha?


- Nunca reparei.
- Você é uma ostra! Como pode não ter reparado no Chad?!
- Ham, na verdade eu evito olhar para eles com segundas intenções... Não quero estragar o clima, entende?


- Hum... Tá ok, você tem razão! Mas como não faço parte da banda posso olhar!
- Tá certa – sorri.
- E o Aaron?
- O que tem?
- É verdade que ele dorme duas horas apenas e passa a madrugada teclando na internet?


- Não posso te responder essa questão, porque não sei. – ela fez cara de frustrada, mas animou-se em seguida.
- Ah, mas ele usa óculos não usa?
- Sim, Joanna, ele usa!
- Há! – ela soltou um grito histérico. – Ele deve ficar lindo de óculos!
- Pode ser.


- E o Nicko? Conte-me algo legal sobre ele.
- Nicko, Nicko, Nicko... – disse sequencialmente, buscando algo em minha mente que agradasse Joanna – Ele é romântico.
- Oh! - Ela abriu a boca – Eu também sou romântica! Quero dizer... Ele deve ser minha alma gêmea! – Eu gargalhei – Mas romântico como? – ela quis se aprofundar.


- É do tipo que telefona no dia seguinte, manda flores, hum, faz agrados dando presentes, chocolates... Essas coisas.
- Meu Deus! Morri!
- Larga mão de ser exagerada! – O rosto dela ficou sério por alguns segundos e então ela me perguntou:
- Espera! Como você sabe disso? Ele está saindo com alguém?


- Ah! Não, não! – Disse eu abanando as mãos – Aaron me contou que Nicko sofreu horrores quando rompeu com a ex-namorada, porque ele faz essa linha romântica, entende? Não tem ninguém agora.
- Ah! Que bom, menos mal... ainda tenho uma chance!
- Quem sabe!


- Mas agora, e sobre Urik Curtis? – eu fechei a cara - Quais são os segredos que se escondem por detrás dos seus hipnotizantes olhos azuis e quais as doces palavras que saem por entre seus lábios de Adônis?


- Não faço idéia. Tirando que ele é galinha, presunçoso, ordinário, cafajeste e outras coisas, não sei mais nada da vida dele; ele me trata como se eu lhe devesse um favor eterno; um idiota. A propósito, não sei por que você suspira tanto por um fulaninho tão medíocre; eu te garanto ele não merece.
- Dizem que ele faz coleção de calcinhas das garotas que passam pelo quarto dele.


- Sério? Nunca ouvi falar.
- Dizem também que ele é demais.
- Você diz isso, Joanna!
- Eu digo, mas nunca experimentei.


- Ham... você quer dizer que falam que ele é bom de cama?
- Exato! Dizem que ele te leva do inferno ao céu em poucos segundos de transa. Tenho algumas amigas que dizem ter tido orgasmos múltiplos com ele.


- Sei não, ele deve pagar pras pessoas dizerem coisas extraordinárias em relação a ele; ele é um ogro, um cafajeste de última linhagem!
- Mas você não sabe? Toda mulher se apaixona pelo menos uma vez na vida por um “cafa”.


Não tem como correr e nem como evitar; quando você se da conta, está deixando bilhetes com o seu telefone, e de preferência borrifados com o seu “eau de toilette” para que a fragrância o marque de alguma forma; e depois você torce para que ele se lembre de tirar o bilhete da calça antes de lavar.
- Esse risco, o de ter o bilhete esquecido na calça, é uma hipótese que pode ser descartada em relação ao Urik.


- Ele joga no lixo no segundo seguinte em que sua vítima deixa o matadouro.
- É sério?
- Seriíssimo.
- Insensível! – Joanna suspirou descontente - Mas, não deixa de ser um belo cafa!
- Ordinário, isso sim! Por isso, se um dia você tiver oportunidade, ataque o Nicko. Dos quatro ele é o mais “gente boa”.


Continuamos a noite dando outro rumo à conversa, porém, em um determinado momento, meus olhos se arrastaram para alguns metros de mim, como se eu não tivesse domínio sobre eles; as palavras de Joanna foram tomando distância, enquanto o vulto encostado do outro lado do inferninho tomava forma.


Como de costume, Urik combinava alguma peça humana ao seu vestuário; a pobre coitada da vez estava lá, pendurada no pescoço dele... Entretanto, apesar da distância, pude ver algo que por um instante me tirou o eixo.


Curtis me encarou por míseros segundos, com o tal par de hipnotizantes olhos azuis... míseros segundos de um olhar que me deixaram desnorteada pelo mesmo mínimo período.


Quando me dei conta, a cena já estava formada na minha cabeça: Urik em forma de Adônis, deitado sob uma superfície aveludada, completamente, despido.


Quando percebeu que eu também o encarava, desviou os olhos rapidamente... os olhos e a cabeça inteira pra falar a verdade, sugando tudo o que o pingente humano tinha em seu interior com um único beijo.


Eu também desviei os meus olhos, e deixei que o pensamento que acabara de ter se perdesse por entre a música e a conversa com Joanna.

18 de fevereiro de 2011

3º Capítulo - O teste


- Quem é Anna Molly? – perguntei curiosa – Achei que vocês não tivessem garotas na banda.
- Não, não temos. Anna Molly é a guitarra do Urik.
- E como chama a bateria? Amélia? – Questionei com sarcasmo, Aaron respondeu soltando uma risadinha abafada.
- Como adivinhou?


- Deduzi, dizem que Amélias gostam de apanhar além do mais, o que poderia esperar do Curtis, sendo ele o baterista?
- Boa sacada – ele concordou - mas não é exatamente Amélia, é Amelie. – Explicou por fim.


Mal tive tempo de me familiarizar com o estúdio, Aaron foi logo cumprindo a ordem de Urik:
- Aqui está... Anna Molly – Disse ele, fazendo com que eu voltasse a dar-lhe atenção.
Olhei para a guitarra e quase desacreditei quando vi, havia sonhado a minha vida toda em colocar as mãos em uma belezinha como ela:
- É uma Jackson? – Indaguei fascinada.
- Belíssima, não é?


- Muito... – Murmurei, passando os dedos pelas cordas, pronta para fazer Anna Molly cantarolar.
- Acho melhor esperarmos pelo Curtis – Disse Aaron receoso - ele geralmente não deixa que estranhos toquem nela; só não digo pra você começar a tocar porque não sei se ele vai trocar a guitarra.


- Tudo bem... – Afastei minha mão do instrumento, como uma criança que fora proibida de tocar no brinquedo da vitrine; entretanto mal tive tempo de lamentar, pois fui interrompida por Aaron mais uma vez:
- Posso te dizer uma coisa?
- Claro... - Respondi sem pensar.
- Sei que acabamos de nos conhecer e não sei se é o caso e torço para que não seja... me desculpe se não for realmente, mas...


- Pode falar, Aaron... – Disse eu, agora muito ansiosa.
- Cuidado com o Curtis... – Aconselhou - Ele é um cara legal; como amigo, nossa... nem tenho palavras. Mas se você não estiver afim de uma noite e nada mais... Você já deve conhecer a fama do Curtis, não é? – Ele não me deu abertura para responder – Se não conhece, fique sabendo... a cena que vimos ainda há pouco – ele se referia ao pingente de mini saia ruivo do Urik – acontece quase todos os dias e, antes que você me pergunte, eu já respondo... Não, ele não leva ninguém a sério.


Ouvi calmamente o que o Aaron tinha a dizer, e, quando ele finalizou, eu revidei:
- Fica tranquilo, não tenho a menor intenção de ter qualquer tipo de relacionamento com ele que não seja o profissional.
- Melhor assim, ainda mais se você for fazer parte da banda... Seria uma desgraça.


- Eu vou manter a linha, não se preocupe – No instante em que fechei a minha boca, Urik Curtis nos interrompeu, e não posso dizer se fazia tempo que ele estava ali. Sei que ao ouvir a sua voz, enrijeci:
- Aaron, dá o fora!
- Queria ver o teste da Elladora! – Protestou Aaron, em vão.
- Você terá outra oportunidade; e, ainda que ela não passe no teste, vocês podem trocar bilhetinhos e marcar um encontro para mostrar os dotes musicais um ao outro.


Aaron murchou, e bateu em retirada sem argumentar.
- Você é sempre cavalheiro assim? Ou, está SÓ tentando impressionar? – Provoquei Urik, que nem ao menos piscou como resposta - Por que não o deixou ficar para ver o teste? – Impliquei, um tanto chateada pela forma como ele havia tratado o garoto.
Pois, ao contrário de Urik, Aaron vinha mostrando ser um cara divertido e, não posso negar, sentia-me muito melhor quando ele estava por perto. Mesmo que ele abaixasse a cabeça para o Curtis, pelo menos poderia contar com alguém, caso Urik resolvesse me atacar.
- Porque não quero que você se distraia. – Respondeu Curtis secamente.


- Eu não me distraio com facilidade, Urik... – Me dei conta de que estava novamente com os braços cruzados - Se eu tivesse dificuldades com público traria comigo uma venda.
- Ok, depois discutimos isso. Vamos fazer logo esse teste... – Disse ele vindo em minha direção; instintivamente parei de respirar - Já foi apresentada à Anna Molly?


- Sim... já.
- Então toque.
- Posso pegar... ela? – Indaguei insegura, lembrando-me do que Aaron dissera minutos atrás. Urik abaixou os olhos e entortou a boca; pressenti que as palavras vieram até os lábios e a força que ele fez para não cuspi-las em mim, então, antes que ele me mandasse embora, dei continuidade. - O que você gostaria de ouvir? – ele bufou e então respondeu:
- Apenas toque! Toque o que vier em mente, quero ver se você tem o espírito da banda.


Posicionei-me diante da Anna Molly e a puxei para mim; olhei rapidamente para a figura de Curtis postada em minha frente, me encarando ansioso, ou curioso... Quem sabe?
Fechei os olhos seqüencialmente e soltei o ar dos pulmões. Era agora ou nunca, iria provar pra esse machista de uma figa que, independente do meu sexo, eu poderia ocupar a posição de guitarrista da sua banda, sem melodramas.


Busquei dentro do arquivo da minha memória algo que pudesse surpreendê-lo: um metal pesado, me pareceu ideal. Então, soube exatamente o que tocar.
A melodia saiu naturalmente e, para dar muito mais alma ao que tocava, tentei me recordar da minha infância em Essex, de algo em particular que me deixava muito apavorada.


Imaginei as noites escuras, o vento batendo na janela, a sombra da lua refletindo os galhos da árvore no meu guarda roupas, o pânico que sentia do escuro.
O pânico que extravasava em forma de lágrimas por não ter alguém que segurasse a minha mão que tremia de medo da escuridão.


Quando voltei a encarar o estúdio, Aaron e mais dois caras aos quais ainda não tinha sido apresentada estavam posicionados ao meu lado; com exceção de Urik, os outros rapazes batiam palmas freneticamente, me arrancando um sorriso meio bobo.


- Curtis, vamos ficar com ela? Por favor!
- Ela não é um chiuaua, Chad. – Respondeu Urik num tom monótono e em seguida falou:
- Teve um ou dois erros, mas, no final até que não foi ruim.


- Eu não errei, Urik!
- É verdade, Curtis, ela não errou não! – Replicou Nicko.


- Alguém aqui é guitarrista? Aaron, Nicko, Chad? – Questionou Urik severamente, nenhum deles respondeu – Então não venham me dizer se ela errou ou não, EU ouvi... sou EU que tenho o ouvido treinado aqui e se estou dizendo que ela errou, é porque ela errou.


- Falou o senhor “Eu entendo tudo de instrumentos” – Ironizei irritada – Não vou discutir se errei ou não com você. Conheço minha capacidade, sei que não errei, mas se fere o seu ego, espalhe por aí... pra mim não faz a mínima diferença. Agora se você puder me dizer se eu passei ou não no seu teste, pode fazer logo? Ainda tenho que andar pelo menos dois quilômetros até a república, e já esta ficando bem tarde.


Urik deu as costas para nós e iniciou a caminhada até a mesa que comportava o computador; já estava preparada para deixar o estúdio e a casa com o meu orgulho enfiado no bolso do jeans, quando ele soltou, sem que tivéssemos esperado:
- Elladora, ensaio amanhã, às... quatorze horas. – Olhei para os garotos que sorriam em minha direção e sorri de volta para eles.


Em seguida me dirigi até Urik, que já estava sentado diante da máquina, massacrando o teclado.
- Obrigada, Curtis. – Ele não fez menção em me encarar, e respondeu secamente:
- Não por isso; só faça por merecer.

13 de fevereiro de 2011

2º Capítulo - Reconsiderando


No instante em que o ponteiro do relógio alcançou as vinte horas, eu já estava na frente da casa de Urik Curtis.
Reconsiderei a hipótese do teste por puro orgulho, admito. E acabei por me render à vontade quase incontrolável de bater de frente com Urik, a fim de provar que eu era muito mais capaz do que ele ousaria um dia imaginar.


Bati a porta, e aguardei pacientemente, enquanto observava sem muito entusiasmo a fachada.
A tal casa restrita não era uma casa nova, mas isso realmente não me incomodava, afinal nada em Hampton ou em Essex é novo; o meu incômodo veio da luz vermelha que estava acesa no seu interior, dando ao ambiente um ar de bordel barato.


Levou algum tempo para que eu fosse atendida. E, ao contrário do que esperava, não foi Urik quem abriu a porta; era um outro cara.
Ele me olhou com curiosidade por um tempo até que resolveu me questionar:
- Pois não?
- Vim fazer o teste pra guitarrista – Como não sou do tipo de pessoa que faz rodeios, fui direto ao assunto, mas ele pareceu não acreditar nas minhas palavras, então prossegui – O Urik pediu que eu viesse.


- O Urik? – Espantou-se estreitando os olhos.
- Sim, o Urik... – Respondi impaciente.
- Você pode esperar um pouco? É que... Ele tá ocupado agora.
- Eu espero; desde que você me deixe entrar, estou congelando aqui fora.


- Ah, certo... então, entre... – Disse finalmente, seguindo para dentro da casa enquanto eu o acompanhava – Não repara na bagunça; sabe como é, né? Um monte de cara junto.


- Entendo. – Resumi enquanto ele parava de frente para mim dando início ao ritual de apresentação:
- Meu nome é Aaron Burton, e o seu?
- Elladora Gifford.
- Bonito nome, diferente. – Disse Aaron com um sorriso amigável.
- Obrigada. - Agradeci seu elogio um pouco sem graça.


Sequencialmente fomos tomados pelo silêncio.
Tentei demonstrar a falta de paciência soltando alguns suspiros, e movimentando os olhos rapidamente enquanto bisbilhotava superficialmente o local; Entretanto, Aaron parecia estar em uma posição extremamente confortável; Cheguei a pensar que ele poderia ficar ali, me encarando por horas, se eu não tomasse alguma providência:
– Aaron... será que vai demorar pro Urik aparecer? - Questionei um pouco constrangida.


- Vou ver – Dito isso ele virou-se para a escada e gritou – Curtis, tem uma guria aqui te esperando pra fazer um teste!


Um segundo depois ele disse pra mim – Pronto - E então sorriu, me obrigando a sorrir de volta.
- E então – Aaron dirigiu-se a mim com gentileza -, aceita alguma coisa pra beber? Um refri, café, cerveja, chocolate quente, chá... vodka?
- Um chocolate quente eu aceitaria. – Meus dedos estavam frios e temi não conseguir dar o meu melhor na hora do teste.
- Você escolheu justo o que não tem... desculpe. - Disse ele após alguns instantes.
- Talvez um chá?


– Chá! – Exclamou alarmado como se eu tivesse dito que queria tomar um brandy flip, um creme irlandês ou um whisky oitenta anos; por fim se explicou - Devo confessar que o Chad é um legítimo Inglês, e ele toma chá todos os dias às cinco horas quando o relógio da torre soa. Acredite, ele para qualquer atividade que esteja fazendo na hora que o relógio toca para preparar chá com biscoitos; então, não sei se seria correto eu mexer no chá dele... ele pode ficar bravo, entende?


- Claro. – Concordei instantaneamente.
Não me passou pela cabeça pedir mais alguma coisa, mas Aaron me lançava um olhar inquisidor forçando-me a indagar:
- Certo, Aaron, então o que você tem ai?
- Vodka. - Respondeu ele, rapidamente.
- Ah! – Foi a minha vez de exclamar – Vodka é a única coisa que eu não tomo... Sabe? Blackout mental? – Ele assentiu com a cabeça enquanto entortava o lábio, concordando comigo - Eu sinto muito.


Nesse momento, ouvi passos rangendo os degraus... olhei instintivamente para o lado da escada e acabei por deparar-me com o novo cenário, que sinceramente me pareceu montado. Lá estava Urik, trajando camisa regata branca, uma samba canção horrorosa, e uma ruiva de mini saia para completar o modelito de gosto duvidoso.


Fomos obrigados a presenciar a cena patética que eles protagonizaram no momento em que nos notaram.
A garota colou o seu corpo no do Urik, e eles deram um amasso dos fortes sem se incomodar com os presentes. Quando eu já estava pensando em encher uma panela de água gelada e jogar neles, finalmente se desgrudaram.


- Tchau, Curtis! – Disse a garota com voz melosa, não pude deixar de contrair o rosto - Quando nos vemos outra vez?
- Qualquer dia desses...- Respondeu ele em meio ao sorriso debochado - eu te ligo. - Completou, mostrando-lhe o papel com o número do telefone e decorado com a marca de batom.


Fiz careta enquanto ela saía da casa; pelo pedaço insignificante de pano que ela vestia, imaginei que, no momento que ela colocasse os pés na rua, congelaria instantaneamente. Infelizmente não pude ver, a porta fechou antes.


Então voltei a olhar para o Curtis, que já não trazia uma risada debochada. Ele passava a mão na cabeça como se estivesse exausto; então, Aaron quis saber:
- Confessa, Curtis! Ela te deu uma canseira, não foi?


Urik respondeu enquanto seguia até o outro lado da cozinha, agora de costas para nós:
- Tá pra nascer uma mulher que me canse, Aaron... – ele abriu a lixeira, e jogou o bilhete com o telefone da menina fora, voltando a falar no mesmo instante – o problema é o papo. Conversar me cansa, dizer certas coisas me cansa. Alguma mulheres deveriam ser mudas.


Ele voltou a nos olhar. Eu o encarava incrédula, com os braços cruzados num ato inconsciente de desaprovação, enquanto Urik Curtis prosseguia agora falando comigo:
- Você disse que não viria, acabei marcando outro compromisso. – O riso debochado voltou a estampar o rosto.


- Não deveria ter vindo mesmo. - Respondi corajosamente - Pra ver certas coisas poderia muito bem alugar uma VHS de pornografia e assistir no aconchego da minha cama. Além do mais, vouyerismo não é o tipo de coisa que me empolga – Completei irritada.
- Mas agora que já está aqui... – Sorriu ele, ironicamente – Bom, vou vestir alguma coisa, não quero que você tenha nenhuma distração enquanto faz o teste.


- Ah! Você se acha muito, garoto! Ainda que você estivesse nu e trouxesse no seu baixo ventre uma ereção estupenda, não iria me causar nenhum tipo de reação; pode apostar. - Disse eu, convicta.
- Então... Não estive delirando ontem? Você é mesmo marrentinha? – Ele insistiu no sorriso irônico alimentando a minha raiva - Acho que vamos nos divertir. - Eu não respondi a sua provocação.


– Aaron, leva a garota pro estúdio, vai apresentando ela pra Anna Molly enquanto eu me troco.
- Certo – Disse Aaron acatando a ordem de Urik, que já se posicionava para subir a escada.