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31 de maio de 2011

20º Capítulo - Altos e baixos


Quando as férias de duas semanas terminaram, nada parecia ter saído do lugar exceto o meu coração.
Imaginar estar perto de Urik culminava um monte de sensações internas, das mais apaixonantes como: O desejo de sentir o perfume dele, ou ter pequenas palpitações quando o imaginava próximo demais de mim...


Até a raiva que eu não podia evitar quando me lembrava do holocausto que Curtis havia causado na minha república; as conversas entre as garotas ainda hoje giravam em torno do seu apetite sexual, e o quanto ele era indiscutivelmente perfeito na hora H.


Havia chegado adiantada, e admito... estava entusiasmada demais com a volta dos ensaios para ficar na república até o horário combinado.
Tentava me distrair para conter a excitação, e acabei por encontrar no estúdio uma partitura jogada no chão, me agachei com o intuito de analisar o papel, quando o par de tênis surgiu no raio da minha visão.


Corri os olhos vagarosamente da partitura até o tênis, do tênis para o corpo esguio e finalmente cheguei no rosto; Urik me olhava daquele jeito de sempre, como se nunca tivesse acontecido nada entre nós, como se ele nunca tivesse dito “me ame” de forma tão romântica.


Na medida em que o nosso encontro se distanciava, mais claro ficava que transar com o Curtis era como ganhar em uma rifa com um bom prêmio; Pode acontecer com qualquer uma, mas raramente acontece duas vezes:
- O que foi? – O questionei quando comecei a sentir minha bochecha arder.
- O que você está fazendo aqui? – Perguntou ele, sem vontade de saber a resposta.


- A volta do ensaio é hoje, não é? – Me ergui em sua frente, para ficarmos cara a cara.
- É – simplificou ao desviar os olhos de mim.
- Então por que a pergunta?
- O horário, você chegou adiantada.


- Como foram as férias? Proveitosa? – Emendou, já de costas para mim, mas sabia que ele estava rindo debochadamente, era evidente que Urik Curtis estava tentando me provocar, sem pestanejar entrei na onda:
- Deu pra distrair, tinha um monte de coisas para fazer, nem vi os dias passarem.
- Te vi semana passada, eu acho; Fui visitar umas... amigas na república onde você mora.


- Legal – Meu coração deu um salto agonizando dentro do peito, mas fingi descaso:
– Não te vi por lá... tem certeza de que era eu? – Ele voltou a me encarar, e a risada debochada tinha se espalhado por todo o corpo.
- Provável que sim.
- Estranho, porque aproveitei as férias pra visitar alguns amigos também... O Janson, por exemplo.


Finalmente surtiu algum efeito, vi cada centímetro da risada debochada desaparecer do rosto dele, para surgir no meu:
- Você tá saindo com esse cara ainda?
- Por quê? Não podia sair com ninguém nas minhas férias?
- Você sai com quem você quiser... desde que não me prejudique.
- Não te prejudiquei Curtis, o que eu tenho que fazer, faço bem feito... e não preciso de platéia.


Ficamos muito tempo em silêncio depois disso, Curtis sentou-se de frente para o computador, e eu voltei a encarar a partitura que estava no chão.
Não prestava atenção no papel, a batida leve dos dedos dele no teclado estavam me deixando tonta, intimamente desejava ter os seus dedos tocando o meu corpo novamente; por mais impossível que esse simples ato pudesse parecer.


Urik me tirou do estado quase letárgico ao perguntar num tom casual:
- O que você acha dessa frase?
- Está falando comigo? – Ele me lançou o olhar de impaciência, dizendo em seguida:
- Só tem nós dois aqui, com quem mais estaria falando?
- Estava concentrada! Dá um tempo! - Exclamei desconcertada.
- Ok... bom: “Agora eu sei que o beijo perfeito é o beijo da morte”
- Trágico. - Respondi para implicar.
- Não gostou?
- Achei mórbido.


Urik voltou a encarar o monitor, contorceu o rosto, e repetiu lentamente:
- Agora eu sei que... o beijo perfeito é o beijo da morte. – Então ele me fitou com o canto do olho, fazendo com que eu o indagasse de imediato:
- Você está falando isso pra mim, Curtis?
- Claro que não! É uma música, Elladora.


- Eu sei, Urik! Mas tem a ver comigo? – Curtis girou a cadeira na minha direção, apoiou a cabeça na mão, e abriu o sorriso para só depois tornar a falar:
- Pretensiosa! Marrenta... E linda, não posso negar.


Meu sorriso se alargou, e ficamos nos encarando por algum tempo; era nítido o magnetismo que existia entre nós, penso que se não estivéssemos tão próximos aos garotos eu teria o atacado, e ignorado completamente as suas regras.


Porém antes que eu tivesse qualquer reação que não fosse a de sorrir bobamente em direção ao Urik ouvi Chad dizer:
- Estamos atrapalhando alguma coisa?


Eu e Curtis nos desfizemos rapidamente do sorriso, e com a mesma rapidez ele voltou o rosto para o computador dando uma desculpa:
- Chad, você sempre atrapalha! Seja com a sua voz ou com seu chá das cinco, mas hoje não. Você me livrou apenas de ouvir as baboseiras que a Elladora estava falando.
Os três ainda nos olhavam desconfiados, e Nicko questionou:
- O que ela estava dizendo?


Rapidamente elaborei uma mentira qualquer:
- Disse que “New Skin” não estava no cd S.c.i.e.n.c.e do Incubus. – Nicko me encarou frustrado, e Aaron arregalou os olhos antes de proferir:
- E você tava discutindo com o Curtis sobre Incubus? Ele é fã dos caras!
- Eu também sou, mas... dei uma mancada.


Por hora, nossas desculpas tinham sido o suficientes para tirar a desconfiança dos meninos; respirei aliviada quando eles dissiparam o assunto, e começaram a contar sobre os dias em que ficamos sem nos ver, a conversa se prolongou até que Curtis resolveu dar início ao ensaio.


Naquele dia eu tive um dos ensaios mais insólitos da nossa pequena carreira artística em Hampton.
Vez ou outra, flagrava Urik me olhando, ou era pega na mesma condição.
No início tentamos disfarçar, mas depois começamos a sorrir da situação como um todo.


O fato era que eu estava me apaixonando por algo inatingível, proibido e impossível de acontecer; mas não consegui frear o meu coração que ansiava por viver a loucura daquela primeira paixão avassaladora.

26 de maio de 2011

19º Capítulo - Holocausto


Como previsto, Urik Curtis não mais me procurou.
As férias estipuladas por ele foram bem agitadas na minha república; o motivo? O próprio Urik.
Naquelas duas semanas, nenhuma caloura ou veterana se salvou, e eu esperei pacientemente pelo momento em que Joanna viesse me contar sobre a sua última conquista, seria inevitável.


Tentava me concentrar no quadro que estava quase concluído naquela altura, quando ouvi batidas na porta, então pedi para que Joanna entrasse como de costume:
- Entra Jô. – Senti minhas pernas dobrarem sob o meu corpo devido os segundos eternos que demoraram até que a porta fosse arremessada, mas ao ver a figura sorridente de Joanna voltei ao meu estado normal.


Ela fechou a porta em suas costas, me apunhalando sem piedade:
- Adivinha quem acaba de sair do meu quarto?
- Hãm... Janson Bencini? – Implorei mentalmente para que ela confirmasse, ela negou.
- Bencini ainda... não. – Disse ela, usando um tom perigoso.
- Não sei então.


- Oras, Elladora!!! Tente! – Joanna deu alguns passos em minha direção.
- Chad? Nicko? Aaron? - Chutei para prolongar o tempo da tortura.
- Errou, errou, errou... falta um.


- Ok... porquê você não fala de uma vez?! - Questionei então, tentando conter a fúria que acabava de nascer dentro de mim... depositei o pincel no cavalete, e a encarei soltando um sorriso falso – Fala criatura!


- Urik Curtis! – Joanna deu um longo suspiro no final, presumi que intimamente ela sabia que estava me provocando; entretanto tentei sair da situação fazendo pouco caso:
- E ai, como foi? Tudo aquilo que você imaginou?
- Tudo aquilo e muito mais! Ele é lindo... E agora eu posso dizer ele é DEMAIS!


- Blábláblá – Eu dei com as mãos - Conte agora uma novidade sobre o que você pensa sobre o idiota do Urik.
- E o beijo? Não! Aquele beijo simplesmente não existe! – Quando Joanna comentou do beijo eu me teletransportei imediatamente para o passado recente.


Curtis não me beijou, ele não permitiu. Lembrei-me da primeira vez em que estive na casa dele, quando Urik e a garota do bilhete quase se engoliram na minha frente, se ele beijava todas, então porquê não permitiu que eu o beijasse?
- Você... o beijou? – Perguntei por fim.


- Claro! Você acha que eu iria deixar escapar aquela boca?! Nunca! Aliás, ELE me beijou, né? Gente, quantas línguas ele tem?! Que loucura!
Foi impossível não imaginar minha melhor amiga Joanna aos beijos com o Urik.


Minha visão escureceu, comecei a suar frio, e minhas pernas não estavam mais querendo firmar, acabei desabando na cadeira da escrivaninha sentindo o gosto amargo da traição, enquanto a frase idiota dele rodopiava mais uma vez na minha cabeça "Não tente deduzir o que você não pode saber, Elladora." vai pro inferno, Urik Curtis!
- Tá tudo bem com você? – Joanna pareceu descer de sua nuvem colorida me encarando assustada.
- Sim, só estou cansada demais – Despistei – Não ando conseguindo dormir por conta das provas e trabalhos.


- Sabe do que você está precisando?
- Sumir – Disse eu num tom dramático.
- Não! De uma noitada com o, Urik! – Disse ela, empolgada - Ele é relaxante e energético; uma coisa que você nunca experimentou antes... pode apostar.
- Prefiro tomar uma caixa de valium – Rebati com raiva.
Infelizmente não pude deixar de concordar com ela; A grosso modo Curtis era exatamente como Joanna descreveu, só que bem mais detalhado.


Joanna ainda arrumou fôlego para falar sobre a sua noitada com o Curtis por mais de duas horas consecutivas; e eu produzi mais bile naquele período do que havia produzido em toda uma vida.
Este era o preço alto que eu teria de pagar por ter caído em tentação, e estava só começando.

20 de maio de 2011

18º Capítulo - O dia seguinte


Senti meu braço formigar, abri os olhos.
Demorei para fazer o reconhecimento do local, só me lembrei de onde estava quando senti uma dorzinha chata na região da coxa.


Procurei pela luz que invadia sem piedade o galpão, e de frente para a imensa janela, encontrei com a silhueta perfeita do corpo nu de Urik.
Fiquei admirando por uns bons minutos, completamente distraída... como poderia existir alguém tão perfeitamente lindo, e ao mesmo tempo tão ridiculamente ordinário?
- Bom dia; que horas são? – Arrisquei uma conversa à toa, ele não me olhou para responder:
- Quinze pras nove.


Me levantei, e procurei pelas minhas roupas, e assim que me troquei voltei meus olhos em sua direção; Curtis já havia colocado o seu jeans, e confesso que olhar para ele naquele instante fez o meu estômago congelar, sem querer acabei dando voz aos meus pensamentos:
- Engraçado...
- O que é engraçado? – Indagou ele de imediato.


- A maneira como estou me sentindo. – Ele sentou-se no velho sofá, jogou os braços atrás da nuca, e sorriu curioso, tive vontade de sentar-me no seu colo e o abraçar; Porém conhecia as regras de Curtis... ele tinha o mesmo critério de uma madame; assim como elas não repetem roupa, Urik não repetia uma transa.
- Como está se sentindo? - Insistiu ele.
- Você me pegou não foi, Urik? Deve estar satisfeito agora.


Curtis desviou o rosto encarando um ponto qualquer da parede, então respondeu seriamente:
- Não tente deduzir o que você não pode saber, Elladora.
- Não somos desconhecidos, Urik... conheço as suas regras, melhor do que você deve conhecer, não faria o papel de te entregar o meu telefone, entende? Pois saberia que você jogaria no lixo; Assim como não vou esperar que exista outra noite como esta entre nós.


- Você fala demais, já percebeu? – Disse ele ao se levantar, voltando a encarar a janela.
Sua frase, e sua atitude me fez lembrar de uma segunda regra, não pude deixar de ironizar:
- Que mancada! Apesar de te conhecer, acabo de violar outra regra... Será que vou entrar para a galeria das que você prefere que sejam mudas? – Ele riu com sarcasmo, e me devolveu a provocação:
- Você pensa que conhece tudo e todos não é, marrentinha? Por um instante achei que você fosse diferente das outras, era uma qualidade que eu admirava até... não me faça pensar que tive uma falsa impressão a seu respeito.
- Não preciso da sua admiração, Curtis... guarde para as suas amiguinhas.


Deixei o galpão em seguida sem nem ao menos dizer tchau, apesar da frase: “Não tente deduzir o que você não pode saber” ter ecoado algumas vezes no meu cérebro, dando a falsa ilusão de que comigo poderia ser diferente, sabia que Urik não era um sujeito confiável, tinha plena consciência da forma como ele tratava as mulheres.
Me perguntei se era a única que o conhecia profundamente, ou se todas as garotas que dormiam com ele sabiam, e ainda assim prestavam o humilhante papel de se jogar aos pés do cretino, ordinário, galinha, sem vergonha e gostoso Urik Curtis.

8 de maio de 2011

17º Capítulo - O lado proibido de Urik Curtis


Olhei para ele com espanto por um bocado de tempo, confusa se estava sonhando ou realmente acordada, a demora o fez suplicar – Por favor – Engoli a saliva que havia acumulado na minha boca, e estiquei com apreensão a minha mão afim alcançar o peito de Curtis.
Desci o dedo pelo centro do tórax exercendo uma leve pressão até chegar em seu umbigo; ele passou a mão pelo cabelo, cerrou os olhos, e gemeu em seguida provocando alteração no meu respirar.


Imediatamente Urik tirou a camiseta, e eu corri os olhos para o seu peito desnudo sem conseguir conter o riso malicioso que brotou nos meus lábios.
Eu o tinha desejado tanto nas últimas semanas que o momento parecia uma grande ilusão criada pelos meus pensamentos impudicos.


- Me abrace – Ordenou Curtis, eu o obedeci. Ele me apertou de encontro ao seu peito passou a boca pelo meu cabelo, e sem desgrudar o seu corpo do meu me levou até estarmos debaixo da marquise.


Urik beijou o meu ombro, meu pescoço e a minha orelha enquanto eu corria as mãos pelas suas costas. Beijou meus olhos, meu nariz, minha bochecha e meu queixo; juntou seus olhos a centímetros do meu, senti a respiração tão anelante quanto a minha acariciar o meu rosto.


Naquele instante um raio caiu próximo a nós, fazendo com que o clarão deixasse apenas o hipnotizante azul dos seus olhos em evidência. Seu rosto parecia uma pintura que eu ainda não consegui definir: Impressionismo, Futurismo, Surrealismo... não, ainda não posso definir.


Em seguida ele me conduziu para dentro do galpão, e com uma facilidade absurda me despiu deixando-me apenas com as peças íntimas.
Seus olhos ainda estavam nos meus quando ele sussurrou:
- Me ame.
Desci minha boca até o seu ombro, e comecei a traçar o mesmo caminho que ele traçara em mim: pescoço, orelha, nariz, queixo, bochecha, olho...


O mais inusitado aconteceu quando já não podia agüentar de vontade de beijar-lhe os lábios, ele desviou o rosto e exclamou:
- Não! – O encarei surpresa, ele prosseguiu sombrio – Não faz isso – Mais uma vez engoli a saliva, e lembrei-me rapidamente de todas as frases ruins relacionadas a ele, mas já havia cruzado o limite do perigo há tempos; não tinha mais como voltar atrás.


Em questão de segundos, as poucas peças que nos mantinham vestidos se foram... então eu o amei, de todas as formas que se pode amar alguém; sem limites, sem restrições. Algumas vezes eu o encarava ainda sem acreditar que havia me rendido ao cara mais cafajeste que já tinha conhecido, e ainda que por uma noite, o tive sob meu domínio, em meu poder, em minhas mãos... em meus braços.

1 de maio de 2011

16º Capítulo - A um passo da perdição


Poucos segundos após ter dado início a caminhada ouvi alguém me chamar, obviamente reconheci a voz de imediato, era Urik.


Me virei para encará-lo enquanto o questionava surpresa:
- O que faz no meio da chuva, Curtis?
- O mesmo que você – Ele deu alguns passos em minha direção, minhas pernas bambearam.
- Estou indo pra casa e você mora aqui... Não estamos fazendo a mesma coisa – Respondi um tanto hesitante.


Curtis fincou o pé no gramado, e me fitou por alguns segundos, depois deu mais alguns passos até estar cara a cara comigo.
Apesar da chuva gelada castigar o meu corpo, a presença de Urik não me deixava sentir frio, ao contrário comecei a suar; e as coisas só pioraram quando ele voltou a falar:
- Você não estava voltando para a república, e assim como eu você sabe disso... – Abri a boca para argumentar, entretanto não consegui, pois ele foi mais rápido – Psiiu, não tente mentir... não pra mim.


Em seqüência ele puxou a minha mão, era a primeira vez que ele tocava em mim, a primeira vez que sentia a textura da sua pele; Sempre o tinha imaginado frio como um réptil, porém estive enganada, pois ele era quente, e a sua temperatura era quase febril.
O contato me deixou desnorteada, e a única coisa que me passava em mente naquele instante era que... eu estava a um passo da perdição:
- Vem comigo – Ordenou Custis, me puxando pela mão que segurava, me forçando a acompanhá-lo - Quero te mostrar um lance.


Quando me dei conta, estávamos correndo pelas ruas vazias embaixo da chuva pesada, pra um lugar que eu não sabia qual era e, mal conseguia acreditar que estava fazendo isso em companhia de Urik: O egocêntrico, cafajeste, medíocre, ordinário e lindo Urik Curtis.


Após virarmos algumas ruas deixando vários quarteirões para trás, e de estarmos afastados do centro de Hampton, Curtis parou em frente a um galpão aparentemente abandonado, ele me lançou um sorriso em meio á respiração ofegante que não consegui reconhecer; não era o seu sorriso debochado, nem o malicioso... De qualquer forma, não pude negar que era o mais bonito que eu já tinha visto.


Ele voltou a segurar a minha mão, e caminhou vagarosamente até estarmos no quintal do galpão.
Assim que se assegurou de que o local estava realmente vazio Urik me encarou mais uma vez, e sem que eu pudesse esperar disse:
- Me toque, Elladora.