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29 de outubro de 2011

50º Capítulo - Fascinação


No dia seguinte, enquanto debatia sobre a exposição que estava chegando ao museu com outros dois membros da diretoria, tive a constante sensação de estar sendo vigiada, e quando tinha oportunidade passava os olhos pelos arredores buscando por alguém em particular, entretanto não conseguia avistar Urik.

Assim que a reunião informal deu-se por encerrada, fui pessoalmente verificar e adiantar alguma coisa na galeria em que a exposição seria apresentada; Caminhava pelo corredor com o propósito de retirar algumas peças, e acabei por fazer uma pequena pausa.


Enquanto observava distraída um dos meus quadros prediletos, Magnus deu o ar de sua graça:
- Também gosto desta.
Sem desviar os olhos da tela, respondi automaticamente:
- “A girafa da Núbia”, o animal foi dado a George IV pelo Vice-Rei egípcio Mohammad Ali, a obra é de Jacques-Laurent Agasse, óleo sobre tela, uma pintura Inglesa de 1827.



Urik não se conteve e tripúdiou:
- Quando te via envolvida com as suas telas em Hampton, não imaginava que você quisesse trabalhar com algo tão... chato.
Virei-me em sua direção e o acusei, levemente irritada pelo tom debochado:
- Você disse que gosta dessa tela, Magnus Ülrich!
- Gosto da beleza dela, e não do “blábláblá... óleo sobre tela, pintura inglesa de 1827”!
- É o meu trabalho. - Respondi zangada.
- Ah! Não fica brava! É bricandeira. - Disse ele, enquanto segurava o meu braço e me puxava para junto de si, com a intenção me abraçar.


Porém, antes do abraço acontecer eu o censurei:
- Não! Tá louco?! Eu trabalho aqui, e quase todo mundo conhece o Janson!
- Janson, Janson... - Ele suspirou insatisfeito - quando esse boca aberta vai sair do meu caminho, hein?
- Foi você mesmo quem o colocou no seu caminho. – Provoquei.


- Obrigado por me lembrar - Revidou com o ar tristonho - vou passar mais alguns anos me torturando por isto.
Em seguida mudou de assunto me questionando:
– Está livre após o expediente?
Eu sorri antes mesmo de lhe dar a resposta:
- Vou ligar para o Janson, preciso saber se ele tem planos.
- Tá de brincadeira, né?!
- Eu moro com ele, esqueceu?
- Como poderia esquecer? Você não para de me lembrar!


- Bom, vou ligar e... já te dou a resposta.
Aguardei que Urik se afastasse, mas ele não se moveu, então resmungou fazendo uma careta:
- Pode ligar, não vou sair de perto sem ter a resposta.
- O.k, pensei que tivesse problemas com o Janson...
- Não me importo de ouvir certas coisas quando estão a meu favor.


Liguei para Janson e perguntei se ele tinha planos para aquela noite, ele disse que não tinha, Bencini estava estranho e não pareceu se importar quando comuniquei que iria dar uma esticada para um happy hour com alguns amigos, bom... se ele não se importava, eu menos ainda.
Após desligar o celular voltei-me para Curtis:
- Me espera no “Cordeiro”* saio daqui às dezessete horas.


Quando entrei no pub a primeira visão que tive foi de Urik, parei ao lado da porta e fiquei observando sua bela figura; Curtis ocupava uma das mesas, em sua frente descansava uma taça de Barleywine, e ele mantinha os olhos pacientes na janela. Passado alguns instantes, realizou um pequeno gesto com a cabeça até chegar a porta onde eu o admirava; Seu sorriso se alargou instantaneamente.


Aproveitei para me aproximar, enquanto ele pedia gentilmente para que a garçonete trouxesse mais uma taça e uma garrafa de “La Vieille Bon Secours”, e assim que me sentei na cadeira ao seu lado, ele me indagou:
- Me acompanha na cerveja?
- Sim, evidente... a propósito, está com bala na agulha, Curtis?
- Por quê? – Me encarou curioso.
- “La Vieille Bon Secours”, a cerveja mais cara do mundo, deve custar alguma bagatela.
Ele me respondeu:
- Não custou muito, cerca de 700 libras; Mas sou solteiro, ganho algum dinheiro e ainda não tive tempo para gastar, além disso... você merece muito mais do que uma garrafa de cerveja, é só um agrado que posso estar fazendo por hora.


A garrafa chegou, a garçonete me serviu e em seguida se retirou, nos deixando a sós.
Eu e Curtis ficamos conversando por um bom tempo; ele me contou tudo o que lhe acontecera durante os mais de dez anos que ficamos sem nos ver, falou da sua vida particular e profissional sem parar, contou que quando nos deixou, ele seguiu para a Universidade de Surrey, que não é muito distante de Hampton...


E assim que se formou voltou para Torquay, onde passou algum tempo com os pais, e um ano depois mudou-se para Nova York atrás de boas oportunidades de emprego, e acabou fixando residência por lá.
Enquanto ele me contava sobre a sua vida e suas realizações, notei que do outro lado do pub uma mulher muito bonita, estava secando o Urik, então para quebrar todo aquele assunto pesado, decidi provocá-lo:
- Acho que tem alguém querendo participar da conversa, Magnus.


Ele olhou para mim como se não tivesse entendido o recado, passou os olhos pelo local até que encontrou sobre o que me referia, sua face não mudou de expressão e ele voltou a me encarar no instante seguinte:
- Então, foram cerca de três bandas bem sucedidas... – Eu o provoquei mais uma vez:
- Você não disse nem oi pra moça!
- Que moça?
- A que você acabou de olhar, Urik!
- Desculpa, estava concentrado na nossa conversa.


Ele voltou a olhar pra mulher e a cumprimentou com discrição, em seguida voltou sua atenção para a nossa mesa.
Devido a sua reação, não pude deixar de pensar que nos velhos tempos Urik já teria tido tempo suficiente de inventar qualquer desculpa para passar por ela e desfilar o seu corpo, seu sorriso e seus olhos perfeitos até que a pobre moça se jogasse aos seus pés, porém ela recebeu o mesmo tratamento de um funcionário qualquer.


Estava estupefata e não aguentei segurar isso dentro de mim:
- O.k, chega, pode ser você mesmo, Curtis!
- Do que você está falando, Elladora?!
- A moça do outro lado do pub, Curtis! Você sequer sorriu pra ela com malícia, e nem tentou fazer alguma gracinha para que ela ficasse nos rodeando até que você tenha a oportunidade de flertar com ela.
- Devo ter sido assim... Mas não sou mais. – Respondeu ele, sem graça.


Eu murchei, odiava quando Urik tinha aquela velha atitude de cafa, mas de repente - confesso - estava me sentindo ótima por ele estar sendo desejado por outra, era quase como exibir uma Louis Vuitton, em um chá da tarde com amigas.
- Além do mais, você é bem mais bonita do que ela.
- Mentiroso – Reagi irritada.
- É só se olhar no espelho, Elladora... e você vai ver.


Após deixarmos o pub, Urik me levou até o seu apartamento, e enquanto ele me mostrava os aposentos do seu lar, acabamos nos distraindo e partimos de uma vez para o motivo pelo qual eu estava ali.
Tivemos uma transa calma, e diria até careta se for comparada as outras milhares de vezes em que fizemos amor. Não foi ruim, Curtis continuava transando como um Deus, mas era um tipo de transa que não fazia muito o nosso estilo.


Mantivemos nossas escapadas ocasionais por duas semanas ininterruptas, e todos os encontros, com exceção ao dia do Pub, foram no apartamento dele.

Urik dizia que era uma medida para que minha moral fosse preservada, não que eu me importasse com isso, afinal, mais dia menos dia, Janson ficaria a par dos acontecimentos, se não descobrisse por si só, eu mesma contaria; Entretanto resolvi não interferir no planejamento de Urik, e usei sua tática para me adaptar ao novo Curtis, um homem com habilidades culinárias invejáveis, e um lado caseiro e adulto que me deixavam cada dia mais fascinada.


* "O cordeiro" - O Lamb & Flag (Londres) é considerado o pub mais velho da área de Covent Garden, com mais de 300 anos de história.

25 de outubro de 2011

49º Capítulo – Naturalmente mágico


Urik me levou aos beijos para dentro do toilette feminino, nos enfiamos em um dos reservados, e fizemos amor de uma forma mágica, proibida e suja como tinha sido todo o nosso relacionamento, como tinha sido toda a nossa vida.


E a sensação foi a mesma, como se nada tivesse existido durante os doze anos que nos separaram.
Janson não era ruim de cama, absolutamente... entretanto Urik, possuía a vantagem de conhecer cada detalhe do meu corpo, cada oscilar da minha respiração, cada gesto mínimo que eu fazia quando queria mais atenção em determinada parte, isso tornava o nosso contato uma explosão nuclear, algo indescritível e inesquecível.


Assim que nos saciamos, ficamos nos encarando, recuperando o fôlego que parecia que nunca voltaria ao normal, até Urik sussurrar esbaforido:
- Você é incrível... acho que nunca... vou deixar de dizer isso.
- Você também... é, Curtis, continua perfeito como sempre foi.
Devido ao elogio, ele alargou um sorriso, uma de suas melhores armas contra mim, ser nocauteada pelo sorriso de Urik Curtis ainda era o primeiro passo para a minha perdição.


E seguindo a linha de raciocínio comentei, completamente insegura:
- Você não voltou pra arruinar a minha vida, não é? Você sabe, Urik, eu não estou sozinha.
- Não voltaria se quisesse te arruinar, Elladora, só imagino que o Bencini já teve muito de você... não acha?
Questionou-me torcendo o nariz, um gesto que reconheci de outra vida.
- Ele me ama... – Adverti – Ele passou anos lutando por mim e nunca desistiu, ainda que tivesse milhões de motivos.


- Se você tivesse me dito que ama o Janson, eu não teria em hipótese alguma avançado o sinal, mas... não foi isso que aconteceu – Seu rosto que ficou sério por alguns instantes, voltando a se iluminar pela presunção em seguida - Então significa que você ainda me pertence.
- Mas eu moro com ele... – Tentei argumentar em vão - Temos uma infinidade de coisas.
- Porém, ele não conseguiu fazer com que você o amasse... Eu, não sei, se... acha que Janson vai pegar pesado por causa das coisas que vocês tem juntos, deixa tudo com ele, eu te garanto. – Disse ele, com uma determinação invejável.


- Não seja ridículo! Não sou mulher de viver de favor! – Esbravejei, por conta de sua audácia.
- É só até você conseguir se ajustar, deixa o babaca do Janson e vem comigo.
Não tive tempo de responder, o celular do Urik tocou no momento crucial, meu subconsciente ligou a luz de alerta, e esperei aflita pela mensagem que eu sabia que havia chegado.


Ele sacou o aparelho do bolso do jeans, correu os olhos pelo display, e após a leitura, me deixou a par do conteúdo da SMS:
- Bencini está vindo, é melhor você pensar em uma desculpa, ou vá lá fora e se livre dele, como preferir.
- Como vou fazer isso?!! – Indaguei assustada.
- Não faço idéia... Mas pense rápido, se não estiver disposta a assistir uma boa briga.
A calma de Urik era fora do normal, imaginei quantas milhares de vezes ele deve ter passado por uma situação parecida pra saber reagir ao momento com tanta tranquilidade:
- Isso é terrível, o que devo dizer? - Consegui resmungar.


– Terrível ou não... tic-tac, tic-tac... seu tempo está acabando - Ele ainda conseguia fazer piadinhas, e mais uma vez eu o invejei.
Segundos após Urik ter se calado, ouvi a voz preocupada de Janson do lado de fora do toilette:
- Elladora? Você está ai?! Tá tudo bem?! – Olhei para Urik e ele começou a imitar a forma do Janson falar, tive que forçar uma careta em sua direção para que ele parasse de fazer gracinha:
- “Boca aberta!” – Ele cochichou, e eu quase não contive o riso.



De alguma forma, o momento de descontração fez com que meu cérebro pegasse no tranco e consegui responder passivamente:
- Tô aqui, Jan... não me senti muito bem, e achei melhor jogar um pouco de água no rosto.
-Você precisa de ajuda? - Quis saber, Janson.
- Não, já estou me sentindo melhor, só me dê alguns minutos - Urik me olhava como se eu fosse a pessoa mais incrível do mundo, eu desejei beijá-lo.
- Bom, melhor assim... o show já acabou, Aaron e Chad estão nos chamando pro camarim.


O momento de descontração desapareceu quando surgiu novamente a possibilidade de ter que ficar entre Urik e Janson, felizmente Urik já tinha um plano, e cochichou outra vez:
- Eu não vou, assim que você sair daqui, mando uma SMS pro Nicko.
Então respondi ao Janson:
- Hãm... vou jogar mais um pouco de água no rosto, te encontro lá, pode ser?
- Ok, sem problemas... Vê se não demora, não tenho muito assunto com eles.
- Não vou demorar, prometo.


E assim que tivemos certeza que Bencini tinha se afastado, voltamos a conversar:
- Eu tenho que ir, Curtis, eu quero cumprimentar os meninos, estou com saudades.
Urik com o intuito de me provocar revelou:
- Que pena, quando Aaron e Chad saírem daqui, vamos todos para o meu apartamento, e ficaremos a madrugada toda conversando, relembrando coisas do passado, tomando whisky oitenta anos até que o dia amanheça.


- Bobo, não queria ir mesmo – Respondi sentida, e emendei uma pergunta que não fazia parte do meu repertório - E sobre nós? Quando vou te ver novamente?
- Em breve, amor, eu sei onde te encontrar.
- Eu vou te esperar.
Urik se enroscou em mim, e sussurrou de forma carinhosa antes de me beijar:
- Pode me esperar, não vou te desapontar, e não esquece... eu te amo.


Deixei o reservado com muita dificuldade, caminhei até a pia tranquilamente como se o tempo pudesse me esperar, e enquanto lavava as mãos fiquei pensando em como a sensação de estar com o Magnus, era diferente de tudo que já tinha sentido.
Em nenhuma das vezes em que traí Janson, fiquei satisfeita... ao contrário, até aqui só havia me decepcionado e me arrependido depois.
Concluí então que estar com o Urik não era exatamente uma traição, porque é natural como ato de respirar, pois somos feitos das mesmas coisas, pertencemos ao mesmo mundo, sujo e mágico.


O que posso dizer é que a felicidade estava quase me sufocando, e o arrependimento passou a milhas de distância de mim.
Dei alguns passos em direção à porta, e olhei pela última vez para o resevado onde Curtis ainda se escondia, achei graça quando notei o par de sapatos realizar movimentos quase imperceptíveis no vão que existia na porta, então me despedi com a voz baixa:
- Tchau, Magnus – E ele respondeu no mesmo tom:
- Já enviei a SMS pro Nicko, você não terá problemas... Ah! Eu amo você, se cuida.


Quando cheguei ao camarim, Janson, Nicko e Joanna já estavam presentes; Eu e meus amigos conversamos por cerca de uma hora, sobre os mais diversos assuntos, preferimos deixar o passado para ser conversado em uma ocasião onde Bencini não estivesse presente, e foi o tempo de liquidarmos uma garrafa de Moët para o clima ficar tenso.


Embora estivéssemos afastados há bastante tempo, era improvável que um dia eu pudesse esquecer as carinhas travessas dos meus garotos... e soube que Nicko havia dado com a língua nos dentes em relação ao meu encontro com o Curtis, devido aos sorrisinhos que Aaron e Chad me lançavam.


Desconfortável com a situação, Janson inventou uma desculpa qualquer e disse que precisávamos ir embora; Não insisti para que ficássemos, pois dentro da minha cabeça tinha outros planos, prontos para serem colocados em prática.

19 de outubro de 2011

48º Capítulo - Pretensões


- Eu mudei. – Disse Urik convicto.
- Urik... por favor! - Exclamei furiosa.
- Não sou mais daquele jeito. – Ele soltou a respiração que até então parecia presa em seus pulmões - Na verdade, tem mais de um ano que não fico com ninguém; Até tive um relacionamento sério por dois anos; Por fim, nos tornamos amigos... sabe como é?
- Não, eu não sei. - Respondi irritada.


- Apesar de ter terminado, foi muito importante pra mim, porque foi a primeira mulher com quem eu fiquei por um tempo considerável, e não trai! Apesar de não amá-la... fui fiel, e o mais legal é que somos amigos hoje, me sinto vitorioso por isso e devo a você o fato.
- Que bom... – Suspirei com pesar - é uma pena que mesmo você dizendo que ainda me ama, não conseguiu fazer o mesmo por mim.


- Para de me julgar pelo que fui, Elladora! Eu só tinha vinte anos! - Ele gritou, na tentativa vã de me fazer entender o seu lado.
- E eu tinha dezenove, Urik, e nem por isso te desrespeitei!

Fez-se um silêncio constrangedor entre nós, e de repente, não sabia mais o que dizer.


Lembrei-me de Janson, eu já deveria ter extrapolado o tempo; Sequei as lágrimas que ainda escorriam pelo rosto e anunciei :
- Eu vou indo, Urik, não tenho mais nada a dizer... E o Janson deve estar preocupado comigo, não quero que ele me veja com você...
- Bencini continua no mesmo lugar, Nicko vai me avisar se ele vier atrás de você.


- Nicko?! – Questionei aturdida – Mas, ele disse que...
- Sei de todos os seus passos, desde que deixei Hampton; Mesmo morando em outro país, sempre soube de tudo que acontece na sua vida.
- E por que só hoje?
Urik sorriu confiante, e me respondeu sem rodeios:
- Porque hoje eu posso te dizer com segurança e certeza absoluta, que estou pronto pra você.


- E quem te disse que hoje eu estou pronta? - Desdenhei.
- Se você quer me enganar... tudo bem, a gente brinca de esconde-esconde até você enjoar e assumir que está louca pra me beijar... Ou quem sabe, relembrar os velhos tempos. – Ele deu uma piscadela, e eu quase o estrangulei:
- Você é pretensioso demais, Curtis, não mudou tanto assim.
- Pretensioso? Nenhum pouco, só não é difícil perceber que ainda compartilhamos o mesmo sentimento.
- Como pode ter tanta certeza?



- Porque te conheço, porque você continua me atacando só para se fazer de durona, mas... Vamos pular essa etapa, pois já sabemos onde termina, além do mais, estou com saudades.
Então seria assim o final de toda a minha luta? Todas as frases gritadas, o desabafo, o pranto... Não valeram de nada.
De fato, eu não valia muita coisa quando Urik resolvia usar o seu lado velhaco, eu poderia cair na mesma conversa mil vezes, e ainda assim não saber ao certo em qual parte fui enganada, simplesmente porque ele sabia me manipular, sempre soube e por que eu achava que seria diferente desta vez?


Curtis não deixou a oportunidade do meu vacilo escapar, e se aproveitou do momento no qual eu fraquejei me puxando ao seu encontro; Seus olhos ficaram a centímetros dos meus, e sua respiração se fundiu com a minha, então ele me beijou como no dia em que nos beijamos no refeitório da república em Hampton, eu não consegui me lembrar de Janson, muito menos da dor que eu senti durante o tempo em que Urik esteve ausente.


vez ou outra quando nossos lábios se desgrudavam ele dizia num sussurro enquanto me segurava pela nuca:
- Eu te amo, te amo muito. – E sem pensar na tragédia que se aproximava eu respondia no mesmo tom de voz:
- Eu também te amo... Magnus, senti sua falta.

14 de outubro de 2011

47º Capítulo - Reflexo


- Você continua linda, Elladora, incrível! – Exclamou Curtis, dando início a sua declamação, enquanto eu o encarava de maneira hostil, ainda preferindo o silêncio, até que eu tivesse controle suficiente para medir as minhas palavras e meus gestos.
- Sabia que existia a imensa possibilidade de te encontrar hoje; Criei muitas expectativas para o nosso reencontro, de como eu me sentiria quando estivéssemos cara a cara, entretanto... nada conseguiu se aproximar, estou muito, muito feliz em te ver.


- Ensaiei tantas vezes o que iria dizer quando o momento chegasse, mas... Estou quase sem palavras – Disse ele, ainda cheio de sorrisos. Porém, quando notou que me dobrar dessa vez poderia ser mais difícil do que ele tinha imaginado, seu rosto começou a tomar ar de seriedade, e eu o agradeci por isso.
- Espero que não seja tarde para um pedido de desculpas, por tudo que te fiz... Ou melhor, pelo que fiz com a gente. Quero que saiba que eu lamento muito, por não ter sabido lidar com a situação de uma forma mais madura.


- De qualquer maneira, gostaria de dizer que... hoje eu tenho a verdadeira noção do quanto fui horrível, e me arrependo amargamente por não ter conseguido ser um bom namorado pra você. – Ele esperou novamente pelas minhas palavras, que não vieram, eu continuava impassível.
– Devo dizer que, muitas coisas aconteceram na minha vida durante estes anos, muitas pessoas passaram por mim, ou eu passei por elas, não sei... Mas, apesar de tudo... Não consegui te esquecer.


- Eu sei que, faltei com as minhas promessas... fui desonesto, mentiroso, mal caráter, infiel, e... Eu poderia ficar o resto da vida listando os meus defeitos, mas pelo visto, não vai adiantar... Talvez porque você já os conheça, e já tenha se fartado deles há muito.

Respirei fundo ao me lembrar o quanto eu tinha desejado ouvir suas desculpas sinceras, o quanto eu almejava que um dia ele reconhecesse cada uma de suas deformidades, porém agora elas não pareciam ter grande importância.


- Assim como eu poderia passar alguns anos me desculpando por tudo, mas daria na mesma, não é? Então... Só posso te desejar felicidades, e que sua vida com Bencini, continue tão boa quanto parece ser, de verdade – Foi a vez dele respirar fundo, após aspirar quase todo o ar que existia entre nós, Curtis deu continuidade:
– Uma das coisas pelas quais esperava, era que você fosse despejar em mim toda a sua raiva, fosse me xingando ou me batendo pra valer, eu temia que isso viesse a acontecer, apesar de saber que sou merecedor, entretanto... Seria preferível que tivesse sido da forma como temi, ao menos teríamos nos comunicado.
Ainda assim, agradeço por pelo menos ter me ouvido, e espero que não precise passar mais doze anos para que você consiga me perdoar... bom, acho que é isso, eu... Vou indo.



Nos quarenta e cinco minutos do segundo tempo, Urik Curtis me convenceu de que ser impassível não seria a melhor opção.
A possibilidade de conviver por mais doze anos, com todas as dúvidas e magoas atravessadas como um osso de galinha na minha garganta estavam completamente fora de cogitação; Então, antes que ele desse as costas e desaparecesse novamente da minha vida, desabafei:
- Eu te esperei... te esperei um ano inteiro, alimentando a expectativa de que você voltaria para me buscar, porque... você foi embora e levou tudo, tudo que eu tinha, Urik, tudo o que eu, Chad, Aaron e Nicko tínhamos; Nós te esperamos por um ano sentados na porta de casa, cada indivíduo que virava a rua era uma esperança que se acendia e se apagava em seguida, quando percebíamos que não era você... e todas as vezes doía.


- Você ainda não conseguiu compreender os meus motivos? – Indagou Curtis, irritado.
- Eu nunca! Nunca vou compreender! – Me exaltei, com toda razão.
- Janson estava lá, e te deu tudo o que eu não poderia te dar naquele momento! Você acha que não doía em mim, saber que ele estava no meu lugar? Doía! Mas ele... tenho que admitir ele era melhor do que eu, apesar de não te amar como eu te amo... ele pôde te dar o que eu não podia! Enfia isso na sua cabeça!


- Janson É melhor que você, Magnus, felizmente eu posso concordar... Ele é a melhor pessoa do mundo, é a melhor pessoa que eu poderia ter!
- Eu sei que ele é. - Rebateu, num tom quase inaudível.
- Será que devo te agradecer por ter me deixado, e dado a possibilidade dele poder fazer parte da minha vida? Sabe, Jan sonha com casamento e planeja ter filhos comigo, sabe por quê? Porque ele me ama! E quando as pessoas amam elas querem estar perto, querem participar, querem proteger, querem fazer planos... você consegue entender?
Urik abaixou a cabeça e continuou a me ouvir, eu gostei muito da idéia de poder gritar com ele e de vê-lo submisso, ainda que fosse por alguns instantes.


- Porém, eu não consegui amá-lo como ele merece, não é ridículo? E isso me deixa louca! Hoje ele me acusou de ser como o "Todo poderoso" Urik Curtis, e eu senti NOJO! Me embrulha o estômago quando me lembro da comparação.
Infelizmente como sempre, Janson está coberto de razão, porque foi exatamente o que me tornei, foi isso que você me ensinou e o que você deixou no seu lugar quando me largou em Hampton; Depois de ter prometido que eu seria única na sua vida, depois de ter dito milhões de vezes que me amava, você me largou, como se eu fosse uma daquelas ordinárias que você fazia tanta questão de... Levar pra cama!


- Eu sinto muito, por tudo – Disse Urik, irresoluto.
- Não, você não sente – Resmunguei, com desgosto - Se sentisse... não teria me deixado achar que eu era a pessoa mais sortuda do mundo, para que depois eu descobrisse que não era sorte, era azar.
Pensava que eu era a melhor de todas, mas fui a pior delas... isso é tão, triste. Então, se você realmente sentisse muito, não teria voltado para se desculpar por ter sido a pior coisa que já me aconteceu, não precisava ter se incomodado em vir me contar algo que eu descobri há muito tempo, e sozinha.
- Se eu puder fazer alguma coisa que possa mudar - Prontificou-se imediatamente, num tom quase desesperado - pra me redimir de repente... eu faço qualquer coisa, Elladora, é só me pedir.


Pensei por um tempo considerável em algo que Urik pudesse fazer por mim;
Lágrimas transbordaram e escorreram pela minha face cheias de pesar, devido a decisão que eu estava disposta a tomar, sabia que tais lágrimas significavam o apelo do meu coração, forçando com que eu lhe desse o que ele jurava ser seu pertence, mas... não iria mimá-lo, não dessa vez.
Sendo assim não hesitei em reclamar:
- Me deixe em paz, Curtis... porque, me tornei mestra na arte da auto-destruição, portanto não preciso de mais ninguém, muito menos de você pra destruir o pouco que me sobrou; Vá embora, e por favor... não apareça nunca mais.