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29 de outubro de 2011

50º Capítulo - Fascinação


No dia seguinte, enquanto debatia sobre a exposição que estava chegando ao museu com outros dois membros da diretoria, tive a constante sensação de estar sendo vigiada, e quando tinha oportunidade passava os olhos pelos arredores buscando por alguém em particular, entretanto não conseguia avistar Urik.

Assim que a reunião informal deu-se por encerrada, fui pessoalmente verificar e adiantar alguma coisa na galeria em que a exposição seria apresentada; Caminhava pelo corredor com o propósito de retirar algumas peças, e acabei por fazer uma pequena pausa.


Enquanto observava distraída um dos meus quadros prediletos, Magnus deu o ar de sua graça:
- Também gosto desta.
Sem desviar os olhos da tela, respondi automaticamente:
- “A girafa da Núbia”, o animal foi dado a George IV pelo Vice-Rei egípcio Mohammad Ali, a obra é de Jacques-Laurent Agasse, óleo sobre tela, uma pintura Inglesa de 1827.



Urik não se conteve e tripúdiou:
- Quando te via envolvida com as suas telas em Hampton, não imaginava que você quisesse trabalhar com algo tão... chato.
Virei-me em sua direção e o acusei, levemente irritada pelo tom debochado:
- Você disse que gosta dessa tela, Magnus Ülrich!
- Gosto da beleza dela, e não do “blábláblá... óleo sobre tela, pintura inglesa de 1827”!
- É o meu trabalho. - Respondi zangada.
- Ah! Não fica brava! É bricandeira. - Disse ele, enquanto segurava o meu braço e me puxava para junto de si, com a intenção me abraçar.


Porém, antes do abraço acontecer eu o censurei:
- Não! Tá louco?! Eu trabalho aqui, e quase todo mundo conhece o Janson!
- Janson, Janson... - Ele suspirou insatisfeito - quando esse boca aberta vai sair do meu caminho, hein?
- Foi você mesmo quem o colocou no seu caminho. – Provoquei.


- Obrigado por me lembrar - Revidou com o ar tristonho - vou passar mais alguns anos me torturando por isto.
Em seguida mudou de assunto me questionando:
– Está livre após o expediente?
Eu sorri antes mesmo de lhe dar a resposta:
- Vou ligar para o Janson, preciso saber se ele tem planos.
- Tá de brincadeira, né?!
- Eu moro com ele, esqueceu?
- Como poderia esquecer? Você não para de me lembrar!


- Bom, vou ligar e... já te dou a resposta.
Aguardei que Urik se afastasse, mas ele não se moveu, então resmungou fazendo uma careta:
- Pode ligar, não vou sair de perto sem ter a resposta.
- O.k, pensei que tivesse problemas com o Janson...
- Não me importo de ouvir certas coisas quando estão a meu favor.


Liguei para Janson e perguntei se ele tinha planos para aquela noite, ele disse que não tinha, Bencini estava estranho e não pareceu se importar quando comuniquei que iria dar uma esticada para um happy hour com alguns amigos, bom... se ele não se importava, eu menos ainda.
Após desligar o celular voltei-me para Curtis:
- Me espera no “Cordeiro”* saio daqui às dezessete horas.


Quando entrei no pub a primeira visão que tive foi de Urik, parei ao lado da porta e fiquei observando sua bela figura; Curtis ocupava uma das mesas, em sua frente descansava uma taça de Barleywine, e ele mantinha os olhos pacientes na janela. Passado alguns instantes, realizou um pequeno gesto com a cabeça até chegar a porta onde eu o admirava; Seu sorriso se alargou instantaneamente.


Aproveitei para me aproximar, enquanto ele pedia gentilmente para que a garçonete trouxesse mais uma taça e uma garrafa de “La Vieille Bon Secours”, e assim que me sentei na cadeira ao seu lado, ele me indagou:
- Me acompanha na cerveja?
- Sim, evidente... a propósito, está com bala na agulha, Curtis?
- Por quê? – Me encarou curioso.
- “La Vieille Bon Secours”, a cerveja mais cara do mundo, deve custar alguma bagatela.
Ele me respondeu:
- Não custou muito, cerca de 700 libras; Mas sou solteiro, ganho algum dinheiro e ainda não tive tempo para gastar, além disso... você merece muito mais do que uma garrafa de cerveja, é só um agrado que posso estar fazendo por hora.


A garrafa chegou, a garçonete me serviu e em seguida se retirou, nos deixando a sós.
Eu e Curtis ficamos conversando por um bom tempo; ele me contou tudo o que lhe acontecera durante os mais de dez anos que ficamos sem nos ver, falou da sua vida particular e profissional sem parar, contou que quando nos deixou, ele seguiu para a Universidade de Surrey, que não é muito distante de Hampton...


E assim que se formou voltou para Torquay, onde passou algum tempo com os pais, e um ano depois mudou-se para Nova York atrás de boas oportunidades de emprego, e acabou fixando residência por lá.
Enquanto ele me contava sobre a sua vida e suas realizações, notei que do outro lado do pub uma mulher muito bonita, estava secando o Urik, então para quebrar todo aquele assunto pesado, decidi provocá-lo:
- Acho que tem alguém querendo participar da conversa, Magnus.


Ele olhou para mim como se não tivesse entendido o recado, passou os olhos pelo local até que encontrou sobre o que me referia, sua face não mudou de expressão e ele voltou a me encarar no instante seguinte:
- Então, foram cerca de três bandas bem sucedidas... – Eu o provoquei mais uma vez:
- Você não disse nem oi pra moça!
- Que moça?
- A que você acabou de olhar, Urik!
- Desculpa, estava concentrado na nossa conversa.


Ele voltou a olhar pra mulher e a cumprimentou com discrição, em seguida voltou sua atenção para a nossa mesa.
Devido a sua reação, não pude deixar de pensar que nos velhos tempos Urik já teria tido tempo suficiente de inventar qualquer desculpa para passar por ela e desfilar o seu corpo, seu sorriso e seus olhos perfeitos até que a pobre moça se jogasse aos seus pés, porém ela recebeu o mesmo tratamento de um funcionário qualquer.


Estava estupefata e não aguentei segurar isso dentro de mim:
- O.k, chega, pode ser você mesmo, Curtis!
- Do que você está falando, Elladora?!
- A moça do outro lado do pub, Curtis! Você sequer sorriu pra ela com malícia, e nem tentou fazer alguma gracinha para que ela ficasse nos rodeando até que você tenha a oportunidade de flertar com ela.
- Devo ter sido assim... Mas não sou mais. – Respondeu ele, sem graça.


Eu murchei, odiava quando Urik tinha aquela velha atitude de cafa, mas de repente - confesso - estava me sentindo ótima por ele estar sendo desejado por outra, era quase como exibir uma Louis Vuitton, em um chá da tarde com amigas.
- Além do mais, você é bem mais bonita do que ela.
- Mentiroso – Reagi irritada.
- É só se olhar no espelho, Elladora... e você vai ver.


Após deixarmos o pub, Urik me levou até o seu apartamento, e enquanto ele me mostrava os aposentos do seu lar, acabamos nos distraindo e partimos de uma vez para o motivo pelo qual eu estava ali.
Tivemos uma transa calma, e diria até careta se for comparada as outras milhares de vezes em que fizemos amor. Não foi ruim, Curtis continuava transando como um Deus, mas era um tipo de transa que não fazia muito o nosso estilo.


Mantivemos nossas escapadas ocasionais por duas semanas ininterruptas, e todos os encontros, com exceção ao dia do Pub, foram no apartamento dele.

Urik dizia que era uma medida para que minha moral fosse preservada, não que eu me importasse com isso, afinal, mais dia menos dia, Janson ficaria a par dos acontecimentos, se não descobrisse por si só, eu mesma contaria; Entretanto resolvi não interferir no planejamento de Urik, e usei sua tática para me adaptar ao novo Curtis, um homem com habilidades culinárias invejáveis, e um lado caseiro e adulto que me deixavam cada dia mais fascinada.


* "O cordeiro" - O Lamb & Flag (Londres) é considerado o pub mais velho da área de Covent Garden, com mais de 300 anos de história.

4 comentários:

  1. Ainda acho que os dois se merecem... Aff!

    AMO!
    bjosmil! *.*

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  2. Ok, é a escolha dela, mas duas semanas? Qual a dificuldade de dar um chute na bunda do Jan? Qual é a da babaquice agora? Talvez humilhar um pouco mais o garoto? Requintes de sadismo e crueldade? Legal, Ell, cada vez melhor no meu conceito! ¬¬"


    Bjks!

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  3. Odiei ela esta enganando o Jan por tanto tempo... Se é o Kurts que ela quer, beleza só que ela no mínimo deveria ser mais legal com quem foi tão paciente e a escutou por anos e anos ¬¬

    "Urik dizia que era uma medida para que minha moral fosse preservada, não que eu me importasse com isso, afinal, mais dia menos dia, Janson ficaria a par dos acontecimentos, se não descobrisse por si só, eu mesma contaria" Então pq não contou logo? Juro que deu vontade de socar ela ò.ó

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  4. Também não entendo por que não contou ainda para o Jan.
    E juro que estou com os dois pés atrás ainda com o Curtis.
    Esses dois...

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